Apesar de possuir uma das maiores reservas hídricas do mundo, a água brasileira contamina-se com esgotos domésticos e industriais; lixões a céu aberto, sem qualquer tratamento sanitário; pesticidas agrícolas e resíduos industriais, com os altamente tóxicos metais pesados. E nem mesmo as águas subterrâneas escapam da contaminação, por causa da infiltração de poluentes pelo solo. Nas regiões carentes de saneamento básico, quem toma um copo de água corre sério risco de ingerir parasitas, bactérias e vírus responsáveis por uma lista interminável de doenças. E mesmo quem tem água tratada expõe-se a este perigo, pois os cursos de água contaminados por esgotos domésticos, ao atingirem as águas das praias, podem expor os banhistas a bactérias, vírus e protozoários. Estes microrganismos são responsáveis pela transmissão, aos banhistas, de doenças de veiculação hídrica tais como: gastroenterite, hepatite A, cólera, febre tifóide, entre outras. Do ponto de vista de saúde pública, é importante considerar não apenas a possibilidade da transmissão dessas doenças, mas também, a presença de organismos patogênicos oportunistas, responsáveis por dermatoses e outras doenças, como conjuntivite, otite e doenças das vias respiratórias.
A doença mais comum associada à água poluída por esgotos é a gastroenterite. Essa doença ocorre numa grande variedade de formas e pode apresentar um ou mais dos seguintes sintomas: enjôo, vômitos, dores de estômago, diarréia, dor de cabeça e febre. Outras manifestações menos graves incluem infecções dos olhos, ouvidos, nariz e garganta.
Nos países de primeiro mundo, a maior preocupação hoje é com o lixo industrial, cujas substâncias tóxicas, despejadas diretamente em rios e mares ou atingindo águas subterrâneas por infiltração, podem provocar de asma a leucemia e até anencefalia (nascimento de fetos sem cérebro). Entre os metais tóxicos, o mercúrio é um dos mais perigosos, pela sua capacidade de acumulação no organismo. O metal concentra-se nos rins, fígado e sistema nervoso central. A intoxicação provoca vômitos, distúrbios motores, paralisia e morte.
Uma pesquisa recente realizada na Inglaterra, por exemplo, revelou que a contaminação química pode provocar até alterações nas características sexuais dos indivíduos. Foram encontrados no rio Lee, afluente do Tâmisa, peixes hermafroditas, ou seja, que apresentavam características sexuais tanto masculinas quanto femininas. Nesse local, era alta a concentração de substâncias semelhantes ao hormônio feminino estrógeno. Segundo os pesquisadores, esse fenômeno poderia explicar por que a fertilidade dos homens ocidentais vem diminuindo nas últimas duas décadas. Submetido à ação de estrógenos sintéticos ainda no útero da mãe, o aparelho reprodutor masculino estaria sofrendo danos em sua formação.
Para garantir água suficiente e de boa qualidade à população mundial, muito dinheiro teria que ser gasto: pelo menos 600 bilhões de dólares, conforme anunciou o vice-presidente do Banco Mundial, Ismail Serageldin, durante a celebração do último Dia Mundial da Água, 22 de março. Essa fortuna financiaria desde obras municipais de saneamento básico a grandes projetos de limpeza de rios.
Fonte: https://galileu.globo.com/edic/95/saude1.htm